Nós, psicólogas e psicólogos, lidamos com muitas questões emocionais e intensas no contexto clínico, mesmo em outros campos de atuação. Frequentemente estamos diante do sofrimento e da beleza humana, em suas mais variadas facetas.
Ao longo de nossa formação, aprendemos a acolher as lágrimas, a ouvir sem julgamento e a exercitar a empatia. Abrimos o nosso consultório para as pessoas exporem, o que, por vezes, nunca mencionaram para outra pessoa.
Alguns falam sobre a vida íntima, outros sobre os sonhos não encorajados por ninguém. Medos, conquistas e sentimentos são elementos que ganham voz. A nossa escuta, por outro lado, vai ficando mais aguçada e cada vez mais sensível, vamos nos tornando profissionais mais experientes e, em alguma medida, também seguros.
No entanto, quando o assunto é dinheiro, por vezes não nos sentimos minimamente preparados. Tanto os recém formados, quanto aqueles que atuam há mais tempo, frequentemente tem dificuldade para definir o valor da sessão, as formas de pagamento, reajustes anuais e estratégias de cobrança.
Também é comum não darmos a devida atenção ao planejamento financeiro da clínica e misturarmos completamente as finanças pessoais e profissionais. Além de tudo isso, mesmo entre colegas de profissão o tema não é tratado abertamente, parece desconfortável ou até inconveniente perguntar o valor que outros psicólogos da região praticam.
Precisamos aprender a falar sobre dinheiro com leveza. Crenças de que a Psicologia não dá dinheiro, que a clínica demora muito para oportunizar algum ganho, que sempre temos que flexibilizar o valor para atender a todos que precisam, sabotam uma vida financeira saudável e pode chegar a comprometer o nosso sucesso.
Quando atuamos como autônomos, passamos a ser empreendedores, e para prosperarmos é necessário reconhecer esse papel. É verdade que a nossa formação acadêmica geralmente é bastante falha nesse sentido, contudo, usarmos essa justificativa não trará resultados diferentes. É possível construir o nosso valor a partir da profissão que amamos e escolhemos.
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Com essa perspectiva, selecionei 3 passos que certamente farão a diferença na sua obra como psicólogo.
1. Estabeleça metas (inclusive financeiras)
Toda construção começa com um projeto. Identifique e registre os seus objetivos de carreira. Onde almeja chegar esse mês? E daqui 3 meses, 6 meses? Como se vê no próximo ano? Consegue se projetar daqui há 5 anos? Quantas horas dedicará ao consultório? Qual o valor das sessões? Quanto deseja ganhar? Quando irá tirar férias? Realizará exclusivamente psicoterapia ou ampliará os serviços ofertados? Pretende fazer algum investimento no espaço físico ou na sua capacitação?
Transforme cada sonho em uma meta concreta, capaz de ser mensurada e atingida, realmente relevante para você e principalmente com um prazo definido. Essa será uma rica oportunidade para conversar sobre dinheiro com você mesmo, planejar sua rota de ações e seus limites.
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2. Converse sobre dinheiro com seus clientes de forma objetiva e clara
Tendo suas metas já estabelecidas, ficará mais viável negociar o percentual de desconto máximo que pode oferecer, quais são as formas de pagamento que trabalhará e as regras relacionadas as faltas, por exemplo.
Quando dinheiro for o assunto da vez na sessão, permita-se olhar também para si e equilibrar a negociação. É muito comum cedermos totalmente ao outro e com isso, em algum momento, não sentimos o nosso trabalho realmente valorizado, o que ao longo do tempo pode prejudicar o vínculo terapêutico. Acredite, uma conversa franca e aberta beneficia os dois lados.
Como o rapport influencia a psicologia?
Sei que não é um exercício fácil, com alguns pacientes será mais tranquilo do que com outros. Respeite o seu ritmo. Eu também estou aprendendo e cada situação é uma oportunidade para avançarmos. Aos poucos vamos percebendo que até essas condições, podem nos ajudar a compreender melhor o comportamento de quem estamos atendendo.
3. Acompanhe o seu planejamento
Não adianta saber a direção, ter o planejamento e não agir. Assim como não resulta em progresso conversar com o seu cliente sobre dinheiro, tornar o pagamento mais eficaz e não fazer o gerenciamento financeiro da clínica.
Ebook: Equilibrando as contas?: o guia financeiro para psicólogos.
Sempre acompanhe suas metas, identifique se está caminhando de acordo com o que estabeleceu ou se tem tido alguma dificuldade. Avalie se o objetivo precisa ser readequado ou se é necessário sair ainda mais da zona de conforto e testar novas estratégias. Não se cobre acertar de primeira, faz parte do movimento da vida refazermos a rota em alguns momentos.
Nunca é cedo demais para começar, muito menos tarde demais para dar o primeiro passo. Quando o assunto é dinheiro (seja na clínica, em casa ou com os amigos) o melhor a fazer é deixar a prosa rolar e falar cada vez mais sobre isso.
Roberta Seles da Costa
Psicóloga e mestra em Análise do Comportamento pela Universidade Estadual de Londrina. Atua em clínica e é empreendedora na Singular, um espaço para desenvolvimento de inteligência emocional. Tem se aventurado pelo universo da educação financeira e acredita que psicólogas e psicólogos, podemos realmente decolar e construir valor, e também se permitir falar mais sobre dinheiro.