O mundo está em alerta com o COVID-19, e em um primeiro momento pode parecer que esse caos externo não irá nos atingir, ou de que em algum modo afetará o nosso trabalho, especialmente na clínica. Porém, engana-se quem pensa desse modo.
Por mais que a nossa decisão seja manter os atendimentos e seguir todas orientações dos órgãos de saúde, ainda é muito provável que o índice de cancelamentos e reagendamentos das sessões aumentem. Em momentos de imprevisibilidade, é natural que as pessoas não se sintam seguras para manter a rotina e,com isso, optem em adiar a realização de algumas atividades, sendo que uma delas pode ser a terapia.
1. Primeiro de tudo, calma.
Não é a primeira vez que eventos externos de grande magnitude afetam a vida das pessoas de forma tão expressiva, assim como certamente também não será a última. Lembro-me que, quando houve a greve dos caminhoneiros no país, tive uma redução significativa no meu faturamento mensal, tendo em vista que não pude atender por alguns dias.
Além desses eventos, exemplos de situações mais pontuais também podem nos impactar profissionalmente e financeiramente, como ocorre quando adoecemos e precisamos nos afastar por um período ou mesmo quando temos outro tipo de imprevisto, seja na esfera pessoal ou familiar. Todos nós estamos sujeitos a passar por situações que fogem do nosso controle e não são passíveis de previsão exata.
No universo do empreendedorismo essa condição é praticamente inerente ao processo. Os psicoterapeutas que se dedicam totalmente à carreira autônoma, sabem bem do que estou falando, afinal, dificilmente alcançarão a mesma renda todos os meses. Por outro lado, esse é, justamente, um dos aspectos que mais intimida a transição de diversos psicólogos e psicólogas que gostariam de atuar exclusivamente na clínica e não se veem assumindo o risco de abrir mão de um salário fixo proveniente de outro espaço de trabalho.
2. Planeje hoje, planeje amanhã, planeje sempre!
Se focarmos apenas na variação e instabilidade que o consultório nos proporciona realmente essa condição não será nada atraente. No entanto, se analisarmos de uma maneira mais ampla, veremos que existem estratégias que podem nos ajudar a minimizar os riscos e a lidar com os momentos de crise com mais confiança. A principal medida se chama PLANEJAMENTO! Isso mesmo, essa palavra tão conhecida e pouco praticada em nossa área, faz toda a diferença.
Quando falamos em gestão do dinheiro geralmente pensamos em números, cálculos e gráficos. Então, logo nos afastamos. Algumas pessoas optam por terceirizar essa responsabilidade, outras simplesmente tocam o barco sem dar a devida atenção a esse assunto e só param para ver o que realmente está acontecendo quando a situação é grave. O PLANEJAMENTO FINANCEIRO nos dá condições para manobrar as adversidades encontradas no caminho e para fazê-lo não é preciso nenhum domínio complexo de matemática.
Os dados do próprio sistema do Psicomanager podem ser muito úteis. Lá é possível acessar o relatório anual com as entradas e saídas de cada mês. Assim, ao longo dos anos, temos um histórico maior desses dados e podemos identificar se há alguma regularidade. Quais costumam ser os meses de maior faturamento? E de menor? Consegue identificar o motivo? É possível atribuir a alguma ação sua ou a algum fator externo? Após responder a essas questões, terá condições de definir alternativas específicas para aproveitar os momentos de abundância e se preparar para os de diminuição do faturamento.
Quando percebemos que as ondas de faturamentos mais altos começam em determinados meses, sabemos que são períodos propícios para pouparmos. Em contrapartida, quando notamos que há um certo padrão nos meses de baixa, esses serão momentos apropriados para tirarmos férias, por exemplo. No meu caso, percebo que janeiro é um período interessante para descansar, pois boa parte dos meus clientes estão viajando e a frequência às sessões diminui muito. Ciente dessa informação, ao longo do ano eu me programo para poder aproveitar o recesso nesse mês.
Quando o assunto é dinheiro, o que o psicólogo deve fazer?
3. Reserva de emergência
No entanto, o Coronavírus, (figura enquanto uma intempérie atípica), e nossa análise dos anos anteriores não será suficiente. Por isso é tão importante construirmos o nosso fundo de reserva ou reserva de emergência. Como o próprio nome descreve, trata-se de um valor poupado que nos dá subsídio financeiro para lidar com imprevistos.
Dentre os especialistas financeiros, não há consenso quanto ao valor ideal, recomenda-se que seja direcionada para essa reserva entre 3 e 12 meses do total das despesas mensais. Isso significa que se seus gastos são de R$1000 por mês é preciso que acumule entre R$3000 a R$12000. Para nós que somos autônomos, um valor intermediário de 6 meses de fundo pode ser interessante. No entanto, se essa soma for inviável para você, procure ao menos fazer o objetivo de reservar 3 meses.
A ideia é que esse dinheiro em caixa nos auxilie caso, por algum motivo, a nossa renda sofra redução a ponto de termos dificuldade de suprir os gastos. Para acumular a reserva, é necessário que todos os meses dediquemos uma parte da nossa renda para essa finalidade. Não se trata de poupar o que sobrar, mas de realmente fazer um planejamento definindo a quantia específica, como se estivéssemos pagando uma conta. No exemplo anterior, para acumular R$6000 em um ano seria preciso poupar R$500 mensais. Caso esse valor não seja viável no seu planejamento é possível estender o tempo para dois anos e assim guardar R$250 mensais para o fundo de emergência.
O guia acessível: Finanças para Psicólogos
Não há uma fórmula ou receita mágica, será preciso olhar para os seus dados financeiros e estabelecer o que faz sentido para você nesse momento. Não se cobre ter todas as respostas de imediato, realizar o planejamento e tomar decisões financeiras com base nele é como aprender um novo idioma, a fluência é resultado do treino. Lembre-se que, esse dinheiro só deverá ser utilizado para emergências ou para oportunidades imperdíveis, que realmente possam agregar valor ao seu trabalho. Focar na construção da sua reserva é um grande passo na direção de uma vida financeira mais saudável.
Assim o Coronavirus não vai te pegar!
Roberta Seles da Costa
Psicóloga e empreendedora. Tem como propósito ajudar profissionais da Psicologia a construírem o seu valor, alcançando uma vida mais significativa e próspera, inclusive financeiramente. Graduada em Psicologia e mestre em Análise do Comportamento pela Universidade Estadual de Londrina. Pós-graduanda em Psicologia Positiva e Ciência do Bem-estar.